domingo, 22 de junho de 2014

A Bruxa e o Inquisitor



Era uma noite fria e escura, primeira noite de lua cheia, na pequena e pacata vila de Filan.
Estava tudo normal, ate 03h00min da manha quando um barulho de acidente de carro muda a rotina da Rua Maremotriz. Os moradores acordam assustados, vão as janelas vêem o que aconteceu, mas o estranho era que não tinha nenhum carro, nenhum acidente, ninguém na rua. Os moradores se
olham entre as janelas e voltam a dormir.

Na manhã seguinte os murmúrios sobre tal acontecimento tomam conta da
rua. Os comentários chegam aos ouvidos do morador mais velho da vila
Jerry, um velho de aproximadamente 90 anos.

-Senhor Jerry, você soube o que aconteceu?- pergunta um menino da vila
ao entrar na sala de sua casa.

-Não meu jovem, o que houve?

-Às três da manhã, meu pai levantou da cama, foi à sala. Estava no meu
quarto ouvi um som alto de um acidente grave de carro, o pai mandou
ficar na cama, não demorou muito ele voltou, eu perguntei a ele o que
houve e ele me disse que nada. Mas eu ouvi atrás da porta quando ele
ficou a sós com a mãe e disse que não tinha nenhum acidente. Que o
barulho fora real, mas não tinha ninguém na rua, nem um gato se quer.
Jerry já presenciara a mesma cena quando tinha a mesma idade do garoto,
mas fingiu não saber de nada.

- Não soube desse fato meu jovem, é algo realmente estranho. Mas não
comentaremos mais nada sobre tal assunto. Volta a brincar com seus
amigos vai. -fazendo um gesto com a mão pra ele sair.

Novamente naquela noite na mesma hora o mesmo fato com o acréscimo de
gritos desesperados, novamente os moradores vão às janelas e ficam com
medo e receosos, mas nenhum se encoraja sair da casa. Mas tarde neste dia
um dos chefes da vila vai ate o Jerry considerado o ancião.
-Jerry temos que conversar você sabe o que esta acontecendo, não pode omitir isso.
Jerry fumando um cachimbo deu algumas tragadas.

-Meu caro Dennis, você sabe que isso não vai parar, não posso fazer
nada!

-Mentira! Você pode e você sabe, por que não quer parar com isso!?

-Não tenho autoridade.

-Autoridade com que?

-Não sei. Exatamente, não posso ajudar por que não sei com o que estamos
lhe dando.
-Seu velho inútil, não quer nos ajudar, pois não nos ajude!

Dennis sai da sala e bate a porta.

Chega a casa alterado, sua mulher percebe.

-O que ele disse?

-Nada, não vai nos ajudar!

-Por quê?

- Porque ele é um velho inútil! Não vou ficar esperando ele tomar uma
atitude ficarei na frente da casa e vou descobrir o que é isso!

Dito e feito, Dennis pega um cadeira, coloca na frente da casa, faz um
café forte, pega um rifle e fica esperando.

Noite escura, nenhum barulho, nem um gato no meio da rua, nem cigarras
cantando. Com o silêncio Dennis adormece, por volta das 03:00 as luzes da
rua apagam, um barulho de um carro freando bruscamente, em seguida uma
batida, uma explosão, escuta-se uma porta de carro abrindo e gritos, as
luzes acendem novamente e os gritos cessam.

Dennis acorda assustado o fato passa em segundos, ele não viu nada. Fica
procurando alguma pista, mas não encontra, desiste e volta ao seu
posto.
Cedo da manha, Jerry estava na Rua Maremotriz chega perto de Dennis.

- Hei acorda
.
Dennis se assusta, olha pra Jerry.

- O que você veio fazer aqui, Jerry?

-Ouvi o que aconteceu ontem, não sei como posso ajudar, mas sei da
estória.

- Sabe e vai me contar?
- Dennis começou a juntar suas coisas e entra em
sua casa, Jerry indo atrás.

-Vou se você me oferecer um café.

- Sente-se, já faço o seu café.

Jerry sentou-se a mesa, em instantes seu café estava pronto.

-Conta-me Jerry, o que esta havendo?
- juntando-se a mesa.

-Há 80 anos, quando tinha a mesma idade de seu filho, ocorreu o mesmo
fato, meu pai me contou a estória.

-E qual é o conto dessa vez?-Na voz de Dennis tinha certo tom de
sarcasmo.

-Bom Dennis, conta à lenda que no século XIV, no auge da inquisição
havia uma bruxa que morava nesta vila, que na época era um simples
vilarejo. Como todos sabem as bruxas eram perseguidas, mas esta não se
deu por vencida e muito menos se deixou ser pega facilmente.
-Qual foi o crime dela?

-O crime? Ser ela mesma diante de todos e desafiava a lei da igreja
chegando a envenenar um padre.

-Ousada ela não?

-Ousadia era pouco pra ela. Ela realmente tinha coragem. Enfim voltando a
lenda. Um dia a bruxa estava andando pela rua, indo fazer algumas compras
pra suas poções, mas certamente como nos últimos dias ela não estava
só, estava sendo perseguida por inquisidores.

-O que acontece a seguir, ela é queimada?-Novo tom de sarcasmo.

-Deixa ser sarcástico e ouça-me!

-Continue.

-Nesse dia quando voltava a sua casa, os inquisidores bateram em sua
porta, queriam entrar, mas ela os deteve, mesmo assim foram bruscos
entraram casa adentro. A bruxa manteve-se calma, não queria dar o gosto a
eles de seu medo por mais que estivesse. Os inquisidores ameaçando ela
de todas as formas, por seu castigo não tinha escapatória já havia
envenenado o padre. O único jeito ate então era se render.

-Mas ela não se redeu.

-Não, acusada de bruxaria e sendo uma, usou seus feitiços, juntou alguns
condimentos ao caldeirão rapidamente e produziu fumaça esverdeada,
aproveitou a situação e saiu da casa correndo. Os inquisidores foram
atrás, era dez contra um, a bruxa correu o mais rápido que pode e
desviando deles, entrando nas ruas escuras e pequenas, numa desses
desvio que ela fez deu numa rua sem saída, sem o que fazer a bruxa ficou
parada ali pensando o que faria, o tempo era curto e os inquisidores
chegaram, ficaram discutindo a bruxa profetizando palavras, fazendo de
tudo que estava a sua mão para deixar acudido. Não deu certo a bruxa era
tão procurada que novos inquisidores chegaram com tochas, armas, arco e
flechas com fogo.

-O que ela fez?

-Era o fim dela, não tinha como escapar, um dos inquisidores mandou
amarrá-la, disse a ela que não teria o julgamento digno de uma bruxa, ou
seja, a fogueira.

-Se não foi à fogueira e nenhum outro método de tortura restou-lhe o
que?

- Não foi digna da fogueira, mas morreu queimada.

-Como?

-As flechas com fogo, o inquisidor que mandou amarrá-la fez o mesmo
mandando jogar-lhe as flechas.

-Foi só?

-Não!Depois de matá-la, os inquisidores levaram-na ao chefe, que queria
ter a certeza que ela estava morta. Jogou ela num poço abandonado, pra
certificarem-se colocaram terra por cima.

-Ta, mas o que isso tem haver com o barulho do acidente.

-Pra que a pressa?

-Então continue a lenda.

-Nada foi por acaso, a bruxa tinha um poder extraordinário, dizem que
ela saiu completamente viva do poço sete dias. Mas voltou com uma nova
identidade. Não era, mas a bruxa e sim uma simples camponesa.
-Ela voltou pra se vingar.

-Como era de se prever não? Ela foi aos mosteiros, como pobre camponesa
pedir um trabalho em troca de abrigo e comida, sua intenção era de achar
o inquisidor que mandou matá-la. Logo descobriu que ele viajou, mas
voltaria nos dias seguintes. Quando voltou estava debilitado, quase a
morte por uma doença desconhecida da época, durou apenas dois meses.

-Então ela não se vingou?

-E nem pode ao menos vê-lo morrer, foi mandada procurar mais camponeses
nas cidades vizinhas pra fazer um acordo com a igreja, pra ter mais
terras, quando ela voltou o inquisidor já tinha sido enterrado. Desde
então o que ela procura é a alma desse inquisidor pra se vingar. E o que
isso tem haver com o barulho do acidente, um fato que não sei se é real,
mas o espírito da bruxa ataca a todos que se parece fisicamente e
articuladamente como ele, ocasionando acidentes. Este do carro é simples,
dizem que um jovem da sua idade estava andando de carro, quando olhou
pelo retrovisor e a viu, bateu o carro que vinha na direção contraria e
os dois pegaram fogo.Pelo que sei, ela nunca mais atacou ninguém.

-Por que o jovem rapaz era a reencarnação do inquisidor?

Jerry terminou seu café e só deu um sorrisinho.

-Essa é a lenda.

- E porque o barulho?

-A bruxa faz a cena, aparecer sempre no mesmo mês. É uma maldição que
ela profetizou antes de ser morta, que quem a ordena a morte veria a
morte na sua frente. Como o tempo passou a morte no caso é o acidente
pro jovem. Porem ela faz a cena aparecer pra não esquecer o que
realmente tem que fazer.

-Então isso vai parar mês que vem?

-Talvez?

-Como talvez?

-A bruxa prometeu que não sossegaria, enquanto o inquisidor pedisse
perdão a ela, portanto enquanto ela não achar a alma do inquisidor e
fazê-lo pedir perdão acontecimentos estranhos vão continuar.

-Não entendi.

-Se você acredita em outras vidas...

-Eu creio, disse em reencarnação...

-Então vai entender que por mais que a alma do inquisidor volte à vida, a
bruxa o perseguirá e vai trazê-lo a morte novamente ate que consiga seu
perdão.

-Você quer dizer que...

-Outra coisa só vê a cena o inquisidor, portanto o barulho não é o
problema e sim ver a cena.

- O que acontece com quem vê a cena?

-Dennis já contei a lenda, obrigado pelo café, mas devo ir.
A lenda deixou Dennis intrigado, será que a bruxa estava novamente à
procura do inquisidor, ou apenas quer assustá-lo quer onde ele esteja.
Na mesma noite Dennis com a lenda fresca em sua cabeça, repetiu o mesmo
ato de ficar em frente a sua casa, queria provas.

Noite mais escura do que as anteriores, fria, nuvens acobertavam o céu,
tinha algo estranho no ar, todos os morados foram deitar cedo. Novamente
pela terceira noite consecutiva nenhum barulho na rua, nem sinal de
vida exceto pelo Dennis que já adormecera.

No horário de sempre, ás 03h:00min da manhã, as luzes se apagam, Dennis
acorda num solavanco. Vê um carro cinza, vindo a toda velocidade, farol
apagado, aparece outro carro menor, branco, a freada brusca do carro
cinza e finalmente a batida. O fogo se expande labaredas altas, sai do
carro cinza um homem, Dennis tenta ver quem era, mas não foi necessário
forçar a visão, o homem saiu do carro pegando fogo, gritando e vinha em
sua direção. Dennis ficou parado, procurou ver se alguém estava vendo a
cena, parecia que ninguém tinha ouvido, voltou seu olhar ao homem que
tinha sumido, os carros ainda pegando fogo, os gritos cessaram. Dennis
vira-se e encontra o homem pegando fogo, fica paralisado com o susto. Mas
o homem fantasma fixou seu olhar no dele. Dennis, com medo não receou se quer mexer, o fantasma ficou ali parado ate que agarrou Dennis, que começou sentir seu corpo pegar fogo, gritava, pedia por socorro, mas o fantasma apenas ria diabolicamente dele.

-Não adianta fugir, segurei você pelo resto de minha vida peça perdão e
você sobreviverá!

-Não sou quem você pensa!

-Que assim seja!

E no minuto seguinte, Dennis completamente carbonizado caído no chão, os
carros tinham sumido.

Na manhã seguinte, o corpo foi a discussão. Jerry que veio acompanhar o ocorrido, quando a só ficou com corpo, abaixou, sussurrou em seu ouvido.

-Eu avisei, inquisidor deveria ter-me pedido desculpa!

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