terça-feira, 15 de julho de 2014

SOMBRAS


É noite de terça feira, 21/06 … Noite do Yule, Solstício de inverno. Ando só pelas ruas da minha cidade, uma rede complexa de prédios, putas e mendigos. Muitos becos, muita escuridão. Um arrepio subiu pela minha coluna e eu juro ter ouvido o uivar de um Lobo… Estou ficando louco, é minha única explicação, estou ficando demente. Por um momento sinto um peso sobre meus ombros, uma sombra se mostra e desaparece. É o sono, só pode ser, saco meu maço de cigarros, coloco na boca, pego o isqueiro zippo, no qual tem uma inscrição “Scáthanna agus bás”, acendo e trago, seguro por um momento, e jogo a fumaça. Por um segundo tudo ficou embaçado e outro uivo eu ouvi, a fumaça que acabei de jogar parece bater em alguma coisa… É eu realmente preciso dormir. Falta pouco para chegar em casa agora, duas esquinas, tudo fechado exceto por um buteco vagabundo, resolvo entrar pra tomar uma dose antes de ir pra casa, whisky, forte, velho, encorpado. Entro com o cigarro na boca, quase 3 da manhã, foda-se a proibição de fumar em locais fechados, dose dupla, a bebida bate no meu estômago e minha cabeça gira um pouco, amaciando um pouco minhas sensações, no bar somente o atendente e um rapaz que me olha desde que entrei, novo, 20 anos, escorado num canto da parede, cabelo curto, ruivo, um cavanhaque desenhado, uma expressão de quem já me viu antes, foda-se ele também, mais um trago no cigarro e outro arrepio sobre, essa porra já esta me irritando.

Termino minha dose, jogo 20 reais na mesa, o atendente pega e não diz nada, saio do bar e vou terminar meu caminho, 3:30 da madrugada, preciso dormir. Já teve aquela sensação de estar sendo observado, olho pra trás e não vejo nada, quando olho pra frente tem algo na esquina… um frio nos ossos me pega, um frio que nunca mais espero sentir… uma sombra na vertical, começo a respirar pela boca e aquele ar branco sai … não estava tão frio assim, na verdade nem um pouco de frio… estou parado sem conseguir me mover, meu cigarro queimando meus dedos e eu não estou sentindo, tudo o que vejo, tudo o que sinto é aquela sombra sugando minha vida. De repente a sombra desaparece e ela esta do meu lado… seus dedos gélidos nos meus ombros, uma voz de fumaça sai do seu corpo …. “mbaineann tú dom” Não… não sei o que isso significa… não, não quero saber o que isso significa… começo a correr e escuto uma risada vinda das minha costas, continuo correndo, viro a esquina e fico paralisado … estou no centro de SP porra como isso é possível…. eu estou ficando louco… tem um Lobo na minha frente… Cinza, olhos claros como a lua… eu não sei o que sinto, não é medo, não é felicidade, não é alívio, não sei o que é … o Lobo olha pra mim, seus olhos parece quebrar meu interior, seus olhos estão vasculhando minha alma… o silencio é quebrado por seu uivo, longo, alto, aterrorizador, eu sinto aqueles dedos gelados na minha nuca e o rosnar do lobo… eu não sei o que fazer, eu ando pra frente, olho pra trás e aquela sombra esta atrás de mim de novo, o Lobo não me deixa passar, ele continua rosnando, não sei se é pra mim ou pra aquela sombra infernal, estou tremendo, estou me cagando de medo, entre dois seres que sabe-se la da onde vieram … um lobo e uma sombra… eu estou no meio… olho pro Lobo e ele salta em minha direção, a sombra vem pra cima de mim … e tudo que eu sei nesse momento é que estou na minha cama… vestido com as roupas de ontem.

Levanto olho ao redor, o sol entrando no meu quarto, uma dor no meu peito, tiro a camisa e agora sim eu tenho certeza de que perdi o Juízo… no meu peito tem a marca de uma pata do lobo, queimada na minha pele… Tudo o que sei agora é que não foi um sonho, mas não foi real, foi tão real quanto um sonho, foi tão irreal quanto a vida, uma queimadura cicatrizada no meu peito, eu preciso de álcool, vou até a cozinha e na parede esta escrito a sangue “Você me pertence”. Fico congelado por 5 minutos olhando pra parede… e como um dejavú … um Uivo ecoa em minha casa.


Por: Lobo.

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